De velhas raizes minhas,

umas vivas, outras mortas,

retirei ervas daninhas

p’ra poder abrir mais portas.


20110531

ALÍCIA, MINHA DELÍCIA!


Um Pai Português,
uma Mãe Brasileira,
deu botão de rosa
num trio à maneira!
Foi doce mistura,
boa p’ra caramba,
e agora tu danças,
o vira e o samba.
E nestes dois jeitos,
há um contratempo:
acabas perdendo
o vira, no tempo.
Estás bem Carioca,
estás bem Portuguesa,
e nesse estares bem,
estou bem, com certeza!

 Maria Letra

POEMA AO MEU NETO LUCA (No estilo emigrante)


Em Londres nasceste, Luca,
Muito British, muito bem.
Dás a volta a todos nós,
'Just like' te convém.
És malandrinho a valer,
Mas nada fazes por mal.
'You know' como convencer ...,
Sabe-la toda, afinal.
Amo teu cabelo louro
E teus olhos cor de breu,
Tens como signo Touro,
'You look an angel', Deus meu!
Não sabes quanto te amo,
Mas sentes o meu amor,
Mesmo se à razão te chamo
Quando 'you behave' pior.
És um menino que encanta,
Um neto que a avó adora,
Mesmo quando 'pinta a manta',
Faz macaquices, ou chora.

20110529

ESCREVENDO SOBRE POESIA - POETRIX E HAI-KAI

A semana passada uma grande amiga perguntou-me porque nunca escrevo Poetrix ou Hai-kai. A resposta que lhe dei deu origem a este meu texto.

Embora reconhecendo um grande talento em certos textos em poetrix ou em Hai-Kai, eu não estou ainda preparada para contrariar a minha tendência natural de escrever duma forma mais ou menos simples, para gente simples. Se poesia é, já de si, uma forma de escrita que a muitos não agrada – ou pelo menos não é a mais apreciada – se vamos complicá-la, tanto pior.
Penso que só um leitor com uma determinada formação académica, ou uma razoável capacidade intelectual, será capaz de compreender aquelas duas formas de poesia. Consequentemente e porque sou uma pessoa que gostaria de escrever para toda a gente, independentemente daquele fator, eu vou continuar agarrada ao meu estilo, maioritariamente virado para o povo, deixando para quem tem muito mais capacidade do que eu, o poetrix e o hai-kai, que – apesar disso – me agrada muitíssimo ler e procurar interpretar. Eles são um autêntico teste à nossa inteligência, quando escritos por bons poetas.
Quando pergunto a alguém simples, se gosta de poesia, a resposta mais frequente que me dão é esta: “Não! Nem por isso”. Ora isto não é o desejável. Contudo, essas mesmas pessoas sabem apreciar um lindo poema, numa linda canção. As duas componentes entrelaçam-se, completando-se. Haverá, portanto, que recriar novas formas de apresentar poesia.  Isto trouxe à minha memória um concorrente do programa deste ano, “Portugal tem Talento”, de nome Guilherme Gomes.  Conforme pode ser visto no vídeo que aqui incluo,


este concorrente teve fortes aplausos de todo o público presente naquela sala, completamente cheia. E isto porquê? Porque ele recorreu a uma forma de participação pouco comum neste tipo de concursos, declamando, de modo muito seguro e com muito talento, poesia.  Acrescente-se que – e isto é o mais importante – todo o público apreciou.

A poesia precisa de ser levada ao público, já que uma grande percentagem dele não se sente motivada para ir ao seu encontro.

Maria Letra

20110528

BRINCANDO COM AS PALAVRAS


Se o lôbrego cenário em que te fechas,
recrudesce e amodorra a tua vida,
não quero mais ouvir as tuas queixas,
fundadas na tua mente empedernida.

Cada vez que, rangendo ao meu ouvido,
me vens falar da tua fé e crença,
afadigas  meu ser que, consumido,
acredita que em ti, é já doença.

Aurindo uma doutrina em que não creio,
coleias, devagar, no meu caminho,
sem perceberes que eu, não serpenteio …

Se aquilo em que acredito, tu não crês,
prefiro mudar meu rumo, e estar sózinho,
Ao remansar da tua insensatez.

Maria Letra
Maio de 2011

20110525

TUAS VESTES NEGRAS


Tratada como escrava do prazer
por um ser com prepotência
capaz de subjugar-te
e abusar-te …,
estás tu, serena.

Anulada até não poderes ver
o alcance e a consequência
do abuso de alguém a usar-te
e a maltratar-Te,
estás tu, em pena.

Em nome dum Deus que não conheço …,
estás reduzida a nada.
Em nome dum Deus que não conheço…,
tu és ignorada.
Escondida, por detrás dum negro atroz,
Estás tu …, sem voz!

Maria Letra

Maio de 2011

20110521

AI SE O DINHEIRO SENTISSE ...

        






Ai se o dinheiro sentisse, esse coitado  …                
O que pensaria ele, dessa avidez
com que é tão desejado, quanto usado
e mudando de destino, tanta vez!?!

Ai se o dinheiro acabasse, esse traidor …
Como o mundo seria bem diverso!
Haveria, certamente, mais amor.
Seria o fim de tudo o que é perverso.

Quer esteja bem escondido em alçapões, 
de banco em banco correndo como um louco, 
ou em pleno voo, se roubado ...

Será sempre motivo de traições,
Ódios, invejas, enfim, de tudo um pouco …
Mas sempre, eternamente, cobiçado.
  
Maria Letra
Maio de 2011

20110518

ESCRAVATURA




ESCRAVATURA

Desde os primórdios da vida
que há gente a usar os outros
como sua propriedade.
Quanta pessoa agredida
no mais fundo do seu ser!
Oh! Quanta brutalidade!

Tem havido tentativas
- ao longo de muitos anos -
de acabar com esse mal.
Contudo, são iniciativas
que nos trazem muitos danos,
e mantêm tudo igual.

A lei tem processos lentos,
não é rápida a actuar.
Não vai ao fundo... ladeia...
Ignora comportamentos
de quem está a escravizar...
A eficácia escasseia.

Todo o ser que é abusado
carece de muito de amor
e de tanta iniciativa...
Ainda não sei p'ra qual lado
pende a lei, em muitos casos.
Depende da perspectiva.

Há que acabar com o abuso,
mas a ganância é tão grande
neste mundo tão cruel,
que mantém, muito confuso,
quem à justiça é fiel.

De forma camuflada
- que a muitos pode escapar -
o abuso permanece...
...com revoltantes manobras
dos que querem escravizar...
E o proibido... acontece!


Maria Letr@
P_2011Mi05

20110514

FICÇÃO - REALIDADE

 Pergunto-me porque não gosto de filmes de ficção e a única resposta que encontro é a de que não tenho paciência para o Irrealismo. Quando jovem, sonhei com vários ideais, que nunca passaram disso. Recordo-me do tempo em que marcava o alarme do meu relógio para as 6h da manhã , para poder ficar a ‘sonhar’ até às 06h:45m, hora exata a que deveria levantar-me. Tenho ainda presente os sonhos, um por um, que esperava realizar.

Entretanto …,

O chão que pisei durante vários longos anos, esteve sempre cheio de pedras que me magoaram muito os pés. Pedras reais, ponteagudas. Aprendi a tentar defender-me delas e não foi nunca, na ficção, que eu procurei camuflar as dores que ainda hoje sinto. Os meus pés ainda hoje sangram, quando outras pedras vão surgindo, deixando-me  magoada, ferida, mas continuo com o ar de quem não tem mais medo de coisa alguma. A minha mente, embora cansada, não está exausta. Não tem é espaço para passar do real ao imaginário.  

Os ácidos que sinto no estômago são provenientes de frutos envenenados, amargos, convidando-me a comê-los, em qualquer ângulo, em cada esquina daquele mundo irreal com que sonhei. Eu os devorei. Não importa porque fui atraída por eles, o que importa é que me envenenaram. Já estou cheia de lições aprendidas em dias de tempestade e dor, mas ainda não vislumbro algumas respostas que gostaria de ter conseguido, depois de tantas reflexões sobre os meus porquês. O tempo urge e eu não sou senhora do meu tempo. Já não tenho mais idade para conquistar seja o que fôr, todavia, ainda quero dar, dar muito.

Continua a ser enorme a minha necessidade de olhar bem para o chão em que caminho. Poderia pensar “que já não valerá colocar trancas na porta quando a casa já foi roubada”, mas sou da opinião de que  nunca será tarde para tentar seja o que fôr.  Faço parte dum grupo que vive mal.  No meu viver mal não há lugar para males materiais.  Muitas vezes me pergunto porque é que a evolução do mundo não toma o sentido correto. Talvez a resposta esteja, exactamente, na existência de muitos frutos envenenados e de muitos os tentados por eles. Os frutos que me tentaram, aparentemente responderiam  às mil perguntas que fui fazendo à vida, no sentido  de encontrar soluções para os problemas que me afligiam e que exigiam uma solução que só eu deveria tentar encontrar, para poder viver. Embora a imoralidade e a indecência não tivessem nunca feito parte da minha forma de estar na vida, em alguns frutos que me foram oferecidos havia muito disso escondido, camuflado. Apanhei semelhante indigestão, que toda a fé que pudesse ter agarrada a mim, por muitos anos, foi dando lugar a um respeito enorme por toda e qualquer religião, mas eliminou de mim a fé em milagres ou qualquer tipo de crença. Respeito a vida maravilhosa como descrita na biografia de santos, mas excluí da minha mente a possibilidade deles fazerem milagres. Não sinto mais em mim aquilo que me fazia acreditar, com fé, nessas coisas. A força de que precisei e preciso para viver e encarar os desencantos ou mesmo para solucionar os meus problemas, vou procurá-la na minha Natureza,  aquela que me comanda, embora exigindo de mim muito respeito por Ela. É Nela que eu tenho encontrado resposta para muitas coisas que eu esperava me caíssem do céu, quando era jovem. Há muitos anos que arregacei as mangas e parti para uma luta feroz, por vezes impensável, por vezes irreflectida. Cada vez que empreendia um novo caminho, abriam-se inúmeras portas, dando-me a honra de várias entradas. Foi na sua escolha que nem sempre tive sucesso. Mas foi na minha calma aceitação de que nada se faz sem um grande esforço – para o qual nem todos estão preparados – que eu aprendi a não desistir de lutar.


- É urgente plantar novas árvores, que dêem frutos saudáveis, não venenosos.
- É urgente viver naturalmente.
- É urgente olharmos para o Universo e reflectirmos no quanto é belo.
- É urgente colocarmos em nós a questão se estaremos a retribuir com Amor, a beleza da Vida.
- É urgente sabermos reconhecer o valor do que de bom nos é oferecido pela Natureza,
  Para que tentemos neutralizar o mal que possam ter-nos feito todos frutos envenenados.
-É urgente lavarmos as feridas deixadas em nós, com tudo quanto a Natureza nos oferece de
  salutar.

Na Natureza não há ficção. Há, isso sim, uma realidade que deve acompanhar-nos em qualquer momento, em qualquer instante, em qualquer tentação. É que Nela, nós vamos encontrar a melhor cura para os males do Coração, da Mente e do Corpo.


Maria Letra

20110513

O QUE RESTA DE MIM

          O meu coração é d’ouro.           
Ele não se deixa vencer.
Continua bem fiel
A esse velho papel
De mostrar ser resistente.
Escondido atrás dum cenário,
De muitas lamentações,
Anseios, palpitações,
Vai–me deixando viver,
Carregando este meu corpo
E as asneiras que ele faz.
Tem-se mostrado capaz
De deixar que eu ainda viva.
Vá-se lá saber porquê ....!

A minha mente é de prata.
Consciente da verdade
Dum destino irreversível,
Que sabemos impossível
De evitar ... está serena.
Luta contra todo o mal.
A minha força, de cobre,
Numa alma muito nobre,
Vai mantendo a pretensão
De querer continuar
A remar contra a maré,
E a continuar de pé.
Não nasci p’ra desistir.
Nasci teimosa, e então?

Minha vontade é de ferro.
Escondo no meu sorriso
E nesta aparente calma,
A dor que me vai na alma.
Mesmo quando o corpo dói,
Não dou o braço a torcer.
Vivo como uma criança
Que não pára, que não cansa.
Porque havia de parar ...?
Aprendi a defender-me,
Nunca soube desistir.
Meu coração, mal ou bem,
Não deixa de resistir,
A muita coisa que vem,
E a outras que vê partir. 

Maria Letra
Londres, Março de 2009
Fotografia de Rui Videira

20110503

MEUS CAMINHOS DE CRISTAL

Meus Caminhos de Cristal,
percorro com ambições,
lado-a-lado com camelos,
águias, mochos, camaleões.
Por vezes lhes faço frente,
outras há que os ignoro.
Depende do que consente,
a minha vida, que adoro.
Aos camelos tiro espaço;
às águias apalpo o pulso;
aos mochos abro um abraço
e os camaleões …, expulso!
Neste caminhar que mudo,
porque a vida mo consente …,
tenho encontrado de tudo,
e tanto que me atormente.
Vejo males noutros caminhos
muito piores do que os meus.
Bichos preversos, daninhos,
‘avis raras’, camafeus.
Magoa fundo esta dor
de ver o velho e a criança,
sem defesa e sem amor,
morrer de desesperança.
E não se iludam aqueles
Que pensam remediar
erros velhos, quando neles,
há vícios de aos céus bradar.
Não se cancela num dia,
condutas velhas, caducas,
e o remendo só adia,
a regra que nos educa.
É preciso fazer mais.
Defenderei, com fervor,
actuações globais
em prol dum mundo melhor.

Maria Letra
2011-05-03