TERMINA UM ANO LECTIVO E BREVEMENTE TERÁ INÍCIO UM OUTRO
Penso
nos meus netos e em tantas crianças e jovens que, durante
aproximadamente 10 meses, subirão, ou não, degraus duma escada que os
conduzirá, ou não, a uma formatura.
Vou contar um pouquinho da
minha vida, num dos momentos em que meu Pai deveria decidir qual a
melhor alternativa do curso que eu deveria tirar. Tinha eu, na altura,
apenas 11 anos. De notar que, nesse tempo, só se iniciava o ensino
primário com 7 anos completados antes de 7 de Outubro e, por isso mesmo,
entrei no 1.º ano já com 7 anos feitos em Setembro. Era, portanto, uma
pirralha sem direito a voto nas decisões familiares.
Quando meu
Pai deixou Coimbra e partiu para o Porto com a família, para ocupar o
lugar de gerente numa firma onde acabou por trabalhar durante 20 anos,
eu tinha já feito o 4.º ano de instrução primária, bem como o exame de
admissão ao liceu, exigido naquele tempo; frequentava, então, num bom
colégio em Coimbra, o 1.º ano do ex-ciclo preparatório. Iria deixar esse
mesmo colégio, com o 1.º ano já iniciado e o meu Pai ainda não sabia o
que o futuro lhe reservava. Tratava-se, consequentemente, dum período de
mudança e havia que decidir considerando duas alternativas: ou era
matriculada para tirar o curso liceal ou para tirar o curso comercial.
Foi decidido, contrariamente à minha vontade, que eu fosse matriculada
num curso comercial o qual, na opinião de meu Pai, dar-me-ia uma maior
preparação para o futuro, caso as coisas não corressem bem na vida dele e
eu tivesse, mais tarde, de trabalhar. Assim sendo, meus Pais
matricularam-me na Escola Comercial Filipa de Vilhena, no Porto, afim de
começar com os pés bem assentes na Terra, pois um bom colégio... seria
caro, dadas as incertezas existentes. Cada um tem de enfrentar o que lhe
vai surgindo na vida, ponderando opções e escolhendo o que parece mais
acetado, para não tropeçar e cair.
Mas eu não tinha nada a ver
com o comércio. Tinha mais a ver com línguas, arte, enfim, tudo o que,
naquela idade, me desse maior prazer fazer. Mas meu Pai tinha razão e,
portanto, preparei-me psicologicamente e lá iniciei o curso comercial,
terminando-o parcialmente, com más notas nas matérias ligadas ao
comércio. Eu, que até ao final do ciclo preparatório, tinha sido uma
aluna de mérito naquilo para que me sentia vocacionada, incluindo
Matemática..., na escala de 0 a 20, consegui 10 valores a Cálculo
Comercial, e igual classificação a Noções de Comércio, Direito e
Economia Política, cada uma destas áreas distribuída pelos 3 anos do
curso...; contudo, tive um 16 a Técnica de Vendas (fruto do meu gosto
pela comunicação). Tendo obtido um 4 a Contabilidade, acabei por fazer o
exame desta disciplina, como aluna externa e sem explicador, e consegui
um bom 16. Um mau professor pode gerar um mau aluno..., como foi o caso
das disciplinas de Contabilidade e de Inglês.
Dado que queria
seguir os estudos e o curso comercial não serviria para o que queria,
pedi equivalência das matérias que tinha completado e fiz exame, como
aluna externa, das disciplinas de Português (que estava "dependurado" no
curso comercial incompleto) e de Inglês (em igual situação), tendo-me
preparado em 3 meses. Tirei um 16 a Português, na prova oral, por ter
errado na prova escrita, porque "desenrolei" um manancial de
conhecimentos sobre o "Auto da Alma" de Gil Vicente, quando deveria ter
falado do "Auto da Barca", do mesmo autor (ou vice-versa). Isso valeu-me
uma oportuna reprimenda do professor que estava a fazer-me a prova
oral, no Liceu de Matosinhos, em frente de todas as pessoas, se bem que
acompanhada dum bonito elogio que não vou aqui mencionar. Porém, como a
prova escrita ficou pela tangente..., só pôde dar-me um 16. Estava tão
convencida do sucesso da minha prova escrita que até pedi, quando soube o
resultado da mesma, a revisão de provas. Esta..., sou eu! A mulher mais
distraída à face do Terra. A Inglês dispensei da prova oral com um
lindo 18. Toda este rol de informações, por 3 motivos:
1 - Portugal precisa de profissionais cuja competência provém da sua vocação e não de estudos "à martelada".
2 - Os Pais deverão respeitar as tendências que os filhos vão
revelando, NUNCA impondo, ou mesmo entusiasmando-os a seguir uma
carreira para a qual não se sentem vocacionados. Deverão aconselhar
apenas, nunca impor ou entusiasmar. Daí nascerão COMPETENTES E DEDICADOS
PROFISSIONAIS.
3 - É importantíssima, para uma boa formação do
aluno, a competência do professor, a todos os níveis, pois é ele quem
será o responsável pela forma como soube, ou não, transmitir-lhe a importância
daquilo que lhe ensinou, sendo exigido a este, obviamente, o cumprimento
dos seus deveres.
Maria Letra
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