De velhas raizes minhas,

umas vivas, outras mortas,

retirei ervas daninhas

p’ra poder abrir mais portas.


20120331

MAR PAIXÃO

MAR PAIXÃO

Mar extenso, mar profundo,
tu és seis vezes maior
que o feldspato,
e enches de luto o mundo
quando sem pena, sem dor,
mais parecendo um vil reato,
tu investes sobre a Terra,
levando na tua frente
tantas vidas.
Com violência que aterra
- porque a morte to consente –
deixas no mundo, feridas,
famílias que em vão procuram
aqueles que tu engoliste
sem piedade,
cavando males que torturam
porque, os que não destruiste,
vemos morrer de saudade.
Mas tu és vida também.
Continuas a espalhar
sedes de ti, mil paixões,
prazeres que nos fazem bem.
Tu nos provocas, ó mar,
um mundo de sensações.
Presente na nossa História,
em tudo o que é descoberta
de outras raças que temos,
tu estás na nossa memória
em cada feito que lemos.


Maria Letra
04/03/2012
Fotografia de: Lúcia Neto

20120328

NO REINO DA VAIDADE


Nesse trono em que estás,
enfatuada,
com a mente vazia
de tudo
e cheia de nada...,
és soberana sem paz.
Tu, és fantasia
no silêncio mudo
duma lenda.
Tu és a hipocrisia
e a mentira.
Tu és um erro sem emenda.
A ambição que em ti gira,
atacada de cegueira,
lança e relança
montes de poeira
aos olhos de quem
é cego, também.
Vives num inferno de vaidade
porque não conseguiste,
nem por escassos momentos,
perceber,
com simplicidade,
o que quer dizer
SIMPLICIDADE!

Maria Letra
Imagem da net

20120324

FOME OU MISÉRIA?

Nas tuas mãos rugosas,
calejadas,
vejo mil sonhos por realizar,
mil promessas amorosas,
impensadas,
mil tormentos enfadonhos,
a magoar.

Um quadro sem vida
e sem cor,
e uma vontade teimosa,
insaciável,
de não te dares por vencida
nessa dor cuja causa,
vergonhosa,
é intragável.

Gostarias de ultrapassar
 algo que te morde,
te remorde,
te consome cada artéria,
a que muitos chamam Fome,
outros dizem ser Miséria!

Maria Letra
24/03/2012

20120320

VERDADES MENTIDAS

A FOME E A FARTURA

Perguntaram à fartura
quem foi que a trouxe ao mundo;
respondeu, toda ternura,
- Foi um ser muito fecundo.

- Gostava de ser seu filho...
- comentou quem perguntou -
Estou metido num sarilho!
Não sei quem me atraiçoou.

Perdi tudo, tenho fome,
não sei mais o que fazer.
Meu nada ter me consome,
sou pobre até no viver.

A fartura, muito cheia,
retorquiu-lhe com afecto:
- Não tens nenhum “pé de meia”?
Viraste um ser abjecto!

Pede emprego no governo...,
vais ver o que é viver bem.
Deixas de estar nesse inferno,
vais viver para Belém.

Estarás à grande, à francesa,
numa casa apalaçada.
Terás sempre cheia a mesa,
e toda a roupa lavada!

Maria Letra

20/03/2012

20120314

A POESIA E EU

 Me escondo na poesia,
nas palavras musicadas,
nas rimas que vou criando,
nas verdades abafadas
entre versos,  vagueando...

Me acalmo na poesia,
comunicando, vivendo,
expressando aquilo que sinto,
quantas vezes não sabendo
se são verdades, se minto.

Maria Letra
2012-03-14