De velhas raizes minhas,

umas vivas, outras mortas,

retirei ervas daninhas

p’ra poder abrir mais portas.


20140408

UM GRANDE AMOR


Quando tinha 13 anos, apaixonei-me, seriamente, por um amiguinho. Era fresca! Quando meu Pai descobriu, “caiu o Carmo e a Trindade” lá em casa. Passei a sofrer todo o tipo de medidas de precaução para que essa paixão não viesse a tornar-se uma forte razão para levar uma boa sova. Pudera! Uma pirralha de 13 anos, enamorada dum “pivete” (passe o significado)... Mas ele era tão lindo! Era o meu Gary Cooper da época...

E fazia eu um trajecto de uns bons 5kms a pé, com uma fiel amiguinha, hoje minha prima por afinidade, só para que pudessemos trocar os nossos bilhetinhos de Amor, antes de ir para a escola. Sim, porque se usasse meio de transporte, não teria forma de passar pela Praça do Marquês, no Porto, onde ele estaria à minha espera. Que inocentes! Acreditem, éramos mesmo inocentes...

Foi também nessa idade que começou o meu amor pela poesia. Nessa altura, eu já sabia alguns cantos dos Lusíadas, de Luís de Camões, tal era a minha paixão. E escrevia..., escrevia..., quantas vezes até de madrugada. Que loucura! E foi numa dessas noites que escrevi um soneto dedicado ao nosso grande Amor, e que foi publicado no jornal “O Primeiro de Janeiro”. Meu Pai, que andava de olhos bem abertos, em cima de nós, nunca comentou o teor do poema. Hoje indago-me porquê. Nele eu revelava o segredo do nosso Amor um pelo outro e a traição de ter sido descoberta, “apaixonada”. Mas meu Pai venceu. Mais tarde o pai dele mandou-o estudar para a Alemanha e o meu autorizou que eu fosse estudar para Londres. Já tinha, nessa altura, 22 anos. Mas aquele Amor continuava vivo em nós. A nossa partida determinou o final duma esperança, mas não do Amor que nos unia. Mas houve um grande “muro” que me obrigou a saltar para outro lado. Eu não devia namorar com ele, sob pena de causar o divórcio dos meus pais. Foi este o poema que escrevi e que lhe dediquei:

Grande é o mistério que envolve o meu segredo
pois, mesmo eu, já nem sei se o compreendo.
Minha vida transformada num degredo,
é enorme confusão que não entendo.

Da minha dor culparei somente a vida,
pois cobrindo-a com o véu da ilusão,
escondi-me atrás de si, na falsa lida
em que andava, disfarçada, sem perdão.

E, ao cair esse véu que faz sofrer
todo aquele que confiar em seu poder,
fazendo dele um jardim para sonhar...

acabei por destruir minha ventura,
não vendo mais o valor, nem a ternura,
que possui um coração que quer amar!

Maria Letra
(escrito aos 13 anos de idade)

Um dia ele insistiu comigo que o Amor dele era maior do que o meu. Pudera! Eu tinha cá um respeito ao meu Pai... Sim, porque ele não era pera doce (mas era tão meu amigo...) Então eu escrevi-lhe, num dos meus inúmeros bilhetinhos, que ele nunca quis devolver-me:

Se tu te servires duma balança,
p´ra com cuidado pesares nossa paixão,
verás tombar, com grande diferença,
o prato que contém meu coração!

Ah pois é!!! Dizia eu...

Maria Letra
2014-04-08

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