Quando tinha 13
anos, apaixonei-me, seriamente, por um amiguinho. Era fresca! Quando meu Pai
descobriu, “caiu o Carmo e a Trindade” lá em casa. Passei a sofrer todo o tipo
de medidas de precaução para que essa paixão não viesse a tornar-se uma forte
razão para levar uma boa sova. Pudera! Uma pirralha de 13 anos, enamorada dum “pivete”
(passe o significado)... Mas ele era tão lindo! Era o meu Gary Cooper da
época...
E fazia eu um
trajecto de uns bons 5kms a pé, com uma fiel amiguinha, hoje minha prima por
afinidade, só para que pudessemos trocar os nossos bilhetinhos de Amor, antes
de ir para a escola. Sim, porque se usasse meio de transporte, não teria forma
de passar pela Praça do Marquês, no Porto, onde ele estaria à minha espera. Que
inocentes! Acreditem, éramos mesmo inocentes...
Foi também nessa
idade que começou o meu amor pela poesia. Nessa altura, eu já sabia alguns
cantos dos Lusíadas, de Luís de Camões, tal era a minha paixão. E escrevia...,
escrevia..., quantas vezes até de madrugada. Que loucura! E foi numa dessas
noites que escrevi um soneto dedicado ao nosso grande Amor, e que foi publicado
no jornal “O Primeiro de Janeiro”. Meu Pai, que andava de olhos bem abertos, em
cima de nós, nunca comentou o teor do poema. Hoje indago-me porquê. Nele eu
revelava o segredo do nosso Amor um pelo outro e a traição de ter sido descoberta,
“apaixonada”. Mas meu Pai venceu. Mais tarde o pai dele mandou-o estudar para a
Alemanha e o meu autorizou que eu fosse estudar para Londres. Já tinha, nessa
altura, 22 anos. Mas aquele Amor continuava vivo em nós. A nossa partida
determinou o final duma esperança, mas não do Amor que nos unia. Mas houve um
grande “muro” que me obrigou a saltar para outro lado. Eu não devia namorar com
ele, sob pena de causar o divórcio dos meus pais. Foi este o poema que escrevi
e que lhe dediquei:
Grande é o
mistério que envolve o meu segredo
pois, mesmo
eu, já nem sei se o compreendo.
Minha vida
transformada num degredo,
é enorme
confusão que não entendo.
Da minha dor
culparei somente a vida,
pois cobrindo-a
com o véu da ilusão,
escondi-me
atrás de si, na falsa lida
em que andava,
disfarçada, sem perdão.
E, ao cair
esse véu que faz sofrer
todo aquele
que confiar em seu poder,
fazendo dele
um jardim para sonhar...
acabei por
destruir minha ventura,
não vendo mais
o valor, nem a ternura,
que possui um
coração que quer amar!
Maria Letra
(escrito aos
13 anos de idade)
Um dia ele
insistiu comigo que o Amor dele era maior do que o meu. Pudera! Eu tinha cá um
respeito ao meu Pai... Sim, porque ele não era pera doce (mas era tão meu amigo...)
Então eu escrevi-lhe, num dos meus inúmeros bilhetinhos, que ele nunca quis
devolver-me:
Se tu te
servires duma balança,
p´ra com
cuidado pesares nossa paixão,
verás tombar,
com grande diferença,
o prato que
contém meu coração!
Ah pois é!!!
Dizia eu...
Maria Letra
2014-04-08
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