Os meus amigos de longa data saberão que sou defensora
da transparência, qualidade que valorizo muito no ser humano, razão pela qual
procuro usá-la eu própria, quando escrevo sobre o que penso, o que sinto, ou o
que sou. Pensei várias vezes se deveria ou não sê-lo hoje ao confessar-lhes
que, pela primeira vez na minha vida - talvez porque tive um período
relativamente longo em que estive de cama - aguentei ver, na íntegra, um
programa de televisão chamado “Casa de Segredos 4”, que tanta gente conhece. Como
mandei instalar uma box da MEO, na minha casa, em Londres, comecei a querer ver
tudo o que era transmitido pelos canais Portugueses e fui acabar no canal 13. Não
se mostrem surpreendidos e/ou consternados… Foi preciso muita coragem, eu sei,
para aguentar uma série de borboletas no estômago, palpitações e revolta, por
constatar, com muita consternação, que me parece quase impossível que
consigamos modificar, imediata e eficazmente, os ignóbeis meios de instigação e
apoio à falta de respeito pelo próximo e até à delinquência, que se verificam
não só na televisão, através de certos programas, mas também em variadíssimos
outros campos.
Quando comecei a ver tal programa recordo que o que
despertou o meu interesse foi a forma como a mãe dum tal Tierry “chafurdou”, na
1.ª gala, num lavar de roupa suja sobre Sofia, mãe da sua neta de 6 meses, em
perfeito contraste com todo o bem que a jovem em causa dizia dessa senhora,
dentro da Casa dos Segredos. Isso despertou o meu interesse em analisar o
comportamento dela, para tentar compreender o porquê das afirmações que fez.
Excluo qualquer outro concorrente além dela e de Diogo, porque todos os outros
não me mereceram qualquer atenção. A promiscuidade de comportamentos e de
educação foi enorme, incluindo mesmo essa garota histérica e convencida que
diziam ser a de maior valor dentro da casa, mas que sempre achei esconder atrás
da sua capa de “nobreza”, uma série de fobias e de “convencimentos” capazes de
arrepiar a minha sensibilidade, já para não referir os seus gritinhos e tiques
de menina cheia de caprichos. “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”. Amiga
que é de Debora, não pode, talvez, ser assim tão “boa menina”. Este cenário de
diferentes aberrações contrastantes, ia provocando em mim uma revolta quase
insuportável, mas aguentei firme a toda uma série de termos impróprios e
atitudes duma indignidade absolutamente intoleráveis e ultrajantes,
características estas constantes em quase todos os concorrentes.
O que, sem dúvida, atraiu a minha atenção, repito, foi
Sofia. Ela reunia contrastes de comportamento que despertavam a minha
curiosidade, dia após dia, tentando ir compreendendo uma série de porquês que,
desde o início, me intrigavam. Eu sabia que esta jovem era alvo de críticas
implacáveis e eu queria conhecer bem porquê. Acabei por inseri-la num espaço aberto dum
puzzle do qual todos os outros deveriam fazer parte, mas que não procurei
arrumar. Daí ser-me difícil encaixá-la naquele espaço. Ela foi, realmente,
diferente. Mas eu repudiei, do princípio ao fim, todas as outras peças. Eu só
precisava delas para perceber melhor a Sofia. Eram peças demasiado fáceis de
perceber, pela suja linguagem e atitudes. Uma demonstração triste, mas fiel, de
comportamentos sobejamente à margem de qualquer comentário, infelizmente muito
comuns. Confesso que “vi-me à nora”, porque colocar uma peça isolada, num
puzzle vazio, não foi fácil, mas deixei-a no lugar que me pareceu mais próprio,
com grande pena minha, porque fiquei sem respostas a perguntas num final de “jogo”,
cujos resultados me levantaram muitas dúvidas.
Por que motivo esta jovem, independentemente de todos os defeitos e virtudes
que temos de reconhecer-lhe e liderando todas as semanas o topo de preferências,
com uma elevada vantagem sobre o 2.º lugar, acaba por ser destronada por um
rapaz vítima de alguns pares de bofetadas e humilhações, mas cujo comportamento,
para revolta de tantas pessoas, representa um ultraje à “dignidade” da mulher, ao
denunciar o que fez, na intimidade, com a jovem que lhe deu acesso directo à
final? Sofia conseguiu, passo a passo, eliminar todos aqueles que não faziam
parte do seu grupo preferencial. Terminado o programa e não obstante o seu inesperado
2.º lugar, na final, entre quaisquer outros ex-concorrentes das 4 Casas dos
Segredos, ela continua em 1.º lugar nas preferências de quem vive este jogo. Muitos
a condenam, mas muitos mais a admiram. Recordo-me que a 1 minuto da final, ela
batia de longe o concorrente que venceu, nas percentagens. O que teria acontecido?
Não saberei responder, mas sei que a sua página oficial, depois da sua derrota,
passou de 40.800 “gostos”, mais ou menos, a perto de 80.000, neste momento.
Nenhum outro concorrente, pelo que foi-me dado observar, terá tantos fãs.
Contudo, ela não venceu.
Amigos, analisei tudo isto contrariada pela minha
incapacidade de levar a minha curiosidade sobre Sofia a uma conclusão
definitiva, mas ela conquistou o meu coração, sem dúvida. Admirei a sua
capacidade de jogar de forma ‘limpa’ e inteligente. Quanto ao seu par, o Diogo,
não preciso de comentar. Quem viu o programa estou certa o terá já excluído do
puzzle por não conseguir compreender um comportamento que prefiro ignorar por
comum, infelizmente. O programa conseguiu atrair a minha atenção na tentativa
de desvendar o fenómeno Sofia e nada mais. Ao longo de 3meses, eles atraíram a
si uma avalanche de admiradores de cenas em que a paixão serviu de alimento às
suas próprias carências (digo eu….). Serão pessoas que, no fundo, conhecem onde
esse sentimento pode, ou poderia, levá-las. Mas este casal acabou, dois dias
depois de terem dado vida a uma história “apaixonante”, em duas posições extremamente
opostas: Sofia sendo mais amada do que odiada e Diogo sendo mais odiado do que amado.
Não seria capaz de responder a quem possa desejar
perguntar-me por que motivo escrevi um texto sobre um tal programa. A resposta teria
de ser extraída dum outro puzzle que também nunca consegui completar: o dos meus
próprios comportamentos.
Maria Letra
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